Procura um pretexto para sair do circuito turístico tradicional e partir à descoberta de um Portugal diferente? Então aceite o desafio do All About Portugal: embarque numa road trip de livro (ou livros) na mão, à boleia de José Saramago. Prémio Nobel da Literatura, escritor genial e eterno viajante, desvendou-nos, nas suas páginas, um país ainda secreto para muitos. Conheça alguns desses lugares que marcaram a sua vida e obra. Siga os passos das suas personagens favoritas e acrescente os seus próprios pontos e vírgulas ao caminho. “Todo o viajante é livre de inventar as suas próprias geografias”. Preparado?

Lavre

Lavre

Começamos a aventura na aldeia de Lavre, em Montemor-o-Novo, onde Saramago escreveu “Levantado do Chão”, publicado seis anos depois de Portugal pôr fim à ditadura. Um retrato da luta do povo alentejano pelo direito à terra, à liberdade, à justiça social e ao pão. Siga os passos do escritor e visite a Casa do Lavre, antiga propriedade senhorial que, diz-se, lhe terá servido de inspiração. Nos arredores, conheça as incríveis Grutas do Escoural e, claro, dê um salto a Montemor.

Lisboa

Lisboa

Seguimos para a capital, onde o autor viveu grande parte da sua vida e cenário de muitas das suas histórias. A Casa dos Bicos, museu e sede da Fundação José Saramago, é de visita obrigatória – ali repousam as suas cinzas, junto a uma oliveira. Percorra os caminhos da Lisboa de “O Ano da Morte de Ricardo Reis”, da Baixa ao Alto de Santa Catarina. Vá até Belém, onde começou “A Viagem do Elefante” Salomão, rumo a Viena. Passe pelo Terreiro do Paço e o Rossio, onde Blimunda e Baltasar se conheceram.

Mafra

Mafra

“Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento de Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento”. Um dos mais aclamados romances de língua portuguesa, “Memorial do Convento” é muito mais do que a história de Baltasar e Blimunda. Retrata a epopeia da construção do Palácio, obra megalómana do rei D. João V, hoje convertido em museu. Embrenhe-se na ação do livro, através das centenas de salas e corredores. Retempere energias na Tapada de Mafra, outrora recreio da realeza.

Azinhaga

Azinhaga

O caminho leva-nos agora para onde tudo começou. Na aldeia da Azinhaga, no Ribatejo, José Saramago está por todo o lado. Espalhadas pela aldeia, em painéis de azulejos brancos, algumas frases do Nobel são prova do orgulho em tão distinto filho da terra. Lá se mantém a casa onde nasceu e uma delegação da Fundação, com uma biblioteca e um museu. Antes de partir, faça uma pausa junto à estátua do escritor, sentado num banco de jardim com um livro na mão. É o local mais fotografado da aldeia.

Constância

Constância

Já por lá tinha andado em “Viagem a Portugal”, guia turístico inspirado e inspirador, que Saramago escreveu em 1981, resultado de um périplo que o levou de norte a sul do país. Em 2008, o autor voltou “aos passos que foram dados”, com Constância a surgir na rota da “Viagem do Elefante”. Diz-se que ali terá nascido (ou, pelo menos, vivido) Luís de Camões. Visite a Casa dos Arcos, dedicada à memória do poeta, passeie pelo Jardim-Horto de Camões e encante-se com a formosa vila caiada de branco.

Castelo Novo

Castelo Novo

Siga os passos do elefante Salomão para chegar a Castelo Novo, junto à encosta da Serra da Gardunha. A aldeia, pitoresca e hospitaleira, proporciona uma deliciosa viagem ao passado, com as suas casas senhoriais e edifícios de traça manuelina. Preste atenção ao barulho da água que desce em caleiras da Serra até às fontes. Surpreenda-se com a Lagariça, um lagar de vinho escavado nas pedras. Por fim, suba às ruínas do castelo, a 650 metros de altitude. A vista é de cortar a respiração!

Belmonte

Belmonte

No sopé da Serra da Estrela, Belmonte foi, durante séculos, refúgio de judeus que preservaram até hoje a sua cultura e tradições. Reviva a história: conheça a antiga Judiaria, visite a Sinagoga Bet Eliahu e o Museu Judaico. Na terra onde nasceu Pedro Álvares Cabral, navegador que descobriu o Brasil, um visita ao Museu dos Descobrimentos é também obrigatória. E não parta sem antes se emocionar com a Pietá, na Igreja de S. Tiago, e o “enigma arquitetónico” de Centum Cellas, à saída da localidade.

Sortelha

Sortelha

Apesar da intemporalidade da sua obra, muitos dos locais referidos por Saramago são, por si só, uma viagem ao passado. A aldeia histórica de Sortelha parece congelada no tempo, com as suas ruelas estreitas e o antigo casario de pedra, perfeitamente conservado. Suba às muralhas do castelo, do século XIII, e estenda a vista até à Serra da Estrela. Entre as pedras de vários tamanhos e feitios que povoam a paisagem, procure a “Cabeça da Velha” e o “Beijo Eterno”, autênticas esculturas da Natureza.

Cidadelhe

Cidadelhe

Seguindo o trajeto de Salomão, eis-nos chegados a Cidadelhe, “o calcanhar do mundo”, nas palavras de José Saramago em “Viagem a Portugal”. A descrição é exata e, ainda, atual: “A aldeia é toda pedra. Pedras são as casas, pedras as ruas. Muitas destas moradas estão vazias”. Sobram, no entanto, motivos para se demorar: a gastronomia, o povo hospitaleiro, o pálio com mais de 300 anos exposto na Casa-Forte ou o Núcleo de Arte Rupestre da Faia, já em pleno Parque Arqueológico do Côa.

Castelo Rodrigo

Castelo Rodrigo

A última paragem do elefante Salomão em terras portuguesas foi a encantadora aldeia de Castelo Rodrigo, distrito da Guarda. Numa colina com vista assombrosa para o Vale do Côa, a aldeia mantém um irresistível charme medieval. O povo acolhedor, o castelo e o casario de tons quentes são um convite para ficar ou, pelo menos, a um regresso. Fica a dica do viajante: “É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre”.