Às 00h20 do dia 25 de Abril de 1974, “Grândola, Vila Morena”, de Zeca Afonso, era transmitida pela rádio e assinalava o início da Revolução dos Cravos, que devolveu a liberdade a um Portugal amordaçado por 48 anos de ditadura. A canção, que se tornou eterna, tinha sido composta anos antes, em jeito de homenagem à pequena vila e ao seu povo. Há lugares assim, tão especiais que se tornam tema de romances, poemas e até músicas. O All About Portugal afinou os ouvidos e selecionou 10 localidades portuguesas que inspiraram as letras, dos mais variados estilos, de artistas nacionais e estrangeiros. Ajuste o volume dos seus auriculares e viaje connosco!

Grândola, Vila Morena

Grândola, Vila Morena

Maio de 1964. Zeca Afonso escreveu “Grândola, Vila Morena” depois de uma atuação na inspiradora vila alentejana. Estava longe de imaginar que, uma década depois, a canção seria escolhida pelo Movimento das Forças Armadas como senha que anunciava o início do golpe militar que pôs fim a 48 anos de ditadura. Incluída no álbum “Cantigas do Maio”, de 1971, tornou-se símbolo da Revolução e hino de Liberdade. Teve dezenas de versões e é, ainda hoje, motivo de orgulho para a “Terra da Fraternidade”.

Lisboa, Menina e Moça

Lisboa, Menina e Moça

É a mais cantada das cidades portuguesas. A fadista Amália Rodrigues celebrou-a como ninguém, em canções como “Lisboa não sejas francesa” ou “Cheira a Lisboa”. Madredeus e Dead Combo dedicaram-lhe álbuns inteiros, Sérgio Godinho gabou-lhe o amanhecer, Carlos do Carmo chama-lhe “Menina e Moça”. A lenda da “chanson française” Charles Aznavour e a cantora de jazz Melody Gardot dedicaram-lhe canções. Os The Walkmen, banda de indie rock norte-americana, têm um disco chamado, simplesmente, “Lisbon”.

Coimbra, Uma Lição

Coimbra, Uma Lição

Há o Fado… e há o Fado de Coimbra! Ligado às tradições académicas, é tradicionalmente cantado por homens, de capa e batina, pelas ruas da cidade. Durante a Ditadura de Salazar, tornou-se arma de resistência pelas vozes e guitarras de Zeca Afonso ou Adriano Correia de Oliveira. “Coimbra é uma Lição”, imortalizada por Amália, é talvez a mais famosa das canções que homenageiam a cidade. Em inglês ganhou o nome de “April in Portugal” e foi cantada, por exemplo, por Louis Armstrong.

Porto Sentido

Porto Sentido

“Quem vem e atravessa o rio / Junto à Serra do Pilar / Vê um velho casario / Que se estende até ao mar”. Com poema de Carlos Tê e música de Rui Veloso, “Porto Sentido” é, talvez, a canção que melhor descreve a cidade e o sentir das suas gentes. Mas vários outros artistas, de Sérgio Godinho a Pedro Abrunhosa, cantaram o Porto, com ou sem pronúncia do Norte. Sotaque acentuado tem o hip hop do Conjunto Corona, que traça um retrato divertido e acutilante da realidade suburbana, de Gaia a Rio Tinto.

Bela Sintra

Bela Sintra

Lugar de magia e mistério, com castelos e paisagens de contos de fadas, Sintra é uma das localidades portuguesas mais citadas em músicas. Os Delfins cantam “A Casa em Sintra”, os UHF falam-nos de “Sonhos na Estrada de Sintra”, os Pontos Negros imaginaram “Um Conto de Fadas de Sintra a Lisboa”. Em “Stay”, o norte-americano Kevin Max recorda uma história de amor que começou em Sintra. O músico e DJ australiano Flume inspirou-se na charmosa vila para compor a música que abre o seu primeiro disco.

Sagres, o Fim do Mundo

Sagres, o Fim do Mundo

Até ao século XV, o promontório de Sagres era “o fim do mundo conhecido”. Foi neste lugar mítico, onde a força da Natureza impressiona, que nasceram os Trovante, uma das mais importantes bandas nacionais. O vocalista Luís Represas dedicou-lhe, anos mais tarde e já a solo, uma canção. O sueco Kristian Matsson, de nome artístico “The Tallest Man On Earth”, deambulou por Portugal durante um período atribulado da sua vida e chamou “Sagres” a uma das suas mais belas composições.

No Lugar de Porto Covo

No Lugar de Porto Covo

Quantos portugueses, no final dos anos 80, não terão escolhido Porto Covo, em Sines, como destino de férias por causa desta canção? Composta pela dupla Rui Veloso e Carlos Tê, “Porto Covo” foi um sucesso estrondoso e colocou definitivamente no mapa esta encantadora aldeia de mar, uma das pérolas da Costa Vicentina. A música pôs Portugal a sonhar com os mistérios da Ilha do Pessegueiro, falésias e praias de areia dourada, histórias de piratas e lendas de amores proibidos.

Índios da Meia-Praia

Índios da Meia-Praia

Na discografia de Zeca Afonso, encontramos uma espécie de estudo antropológico do povo português, do Minho ao Algarve. Foi aí, mais precisamente em Lagos, que o músico encontrou inspiração para uma das suas mais famosas canções. “Índios da Meia-Praia” conta a história de dezenas de pescadores de Monte Gordo que, nos anos 50, se fixaram na Meia Praia, no local onde, depois do 25 de Abril, construíram um bairro com as próprias mãos. “Eram mulheres e crianças / Cada um c'o seu tijolo”.

Ó Elvas, Ó Elvas, Badajoz à Vista

Ó Elvas, Ó Elvas, Badajoz à Vista

Tradicional do Baixo Alentejo, cantado em coro e sem instrumentos musicais, o Cante Alentejano é, desde 2014, Património Cultural Imaterial da Humanidade da UNESCO. Mas, para além do Cante, vários outros músicos traduziram em canções o seu sentir alentejano. “A Minha Cidade (Ó Elvas, Ó Elvas)” foi talvez o maior sucesso da carreira de Paco Bandeira. Vitorino cantou como poucos a vida e a forma de ser alentejanas. António Zambujo diz “Trago Alentejo na Voz”.

Marco de Carmen Miranda

Marco de Carmen Miranda

“Entre Douro e Tâmega, onde começa o Marão”, como se diz por lá, Marco de Canaveses é uma terra de muitos encantos. Ainda assim, parece, no mínimo, improvável que artistas de calibre internacional como Caetano Veloso e David Byrne gravassem uma canção intitulada “Dreamworld / Marco de Canaveses”. A explicação é simples: foi ali que nasceu Carmen Miranda, cantora e atriz brasileira que se tornou estrela de Hollywood entre as décadas de 30 a 50 do século passado.